13.8.08

Um amor-de-verão.

Quando é que comecei a gostar de ti?...

Contas-me que quando cheguei à tua vida me pegaste ao colo.

Mastigavas as coisas com o olhar…. Eras tão pequenino! … E depois sorris e olhas para o chão à procura de uma memória.

Contas-me que, a cada Verão, me viste crescer. Que me vis-te tornar-me num belo menino, depois num belo e educado rapaz, depois num belo, inteligente e educado homem.

Eu também me lembro de ti.

Lembro-me de todos os nossos abraços de todos os nossos ocasionais encontros e despedidas. Com poucas palavras. Sempre poucas palavras.

Não sei muito bem quando foi que descobri a beleza da tua presença. Na verdade, nunca esperei por ti. Nunca soube qual era a tua profissão, o teu maior medo, ou porque é que gostas tanto de vermelho…

Quando é que comecei a gostar de ti?...

Por entre os Verões de cada ano, vi-te casado. Conheci a tua mulher e depois a tua filha e a paixão que sentias por cada uma delas.

Vi-te ostentar a riqueza que te obrigou a deixar a família e te transformou num bem-sucedido-estranho-a-dois-países.

Segui o rasto de alegria que deixavas por onde quer que passasses e assim descobri a beleza do teu corpo de homem.

...

Uma noite de Verão.

Os nossos corpos encontram-se hoje. Frente a frente. Inevitáveis e iguais.

Apertas-me com os teus braços e sinto o teu coração a querer abandonar-te o peito.

A tua boca toca-me o pescoço e de repente perdemos a direcção das mãos.

Choras e não te pergunto porquê porque adivinho que seja pelo Tempo, por ti e por mim.

Beijamo-nos sofregamente. Perdemos a noção de espaço e, desajeitados, apressamo-nos a recuperar tudo, a descobrir tudo, a provar tudo, a dar tudo…

Despedimo-nos de nós e da noite.

Enquanto me abraças dizes que os meus olhos estão cor-de-castanhas-ao-luar e eu, ainda a arrumar o prazer, sorrio-te como se me segurasses ao colo outra vez.


José Laura Saavedra

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