26.4.08

Samba em prelúdio



Samba em prelúdio - Vinicius de Moraes, Maria Creuza & Toquinho

Eu sem você não tenho porquê,

porque sem você não sei nem chorar.
Sou chama sem luz, jardim sem luar, luar sem amor, amor sem se dar.

E eu sem você sou só desamor, um barco sem mar, um campo sem flor,
Tristeza que vai, tristeza que vem...

Sem você, meu amor, eu não sou ninguém.

Ah! Que saudade... que vontade de ver renascer nossa vida.
Volta querido! Os meus braços precisam dos teus,
Os teus abraços precisam dos meus.
Estou tão sozinha... tenho os olhos cansados de olhar para o além.
Vem ver a vida!

Sem você, meu amor, eu não sou ninguém.




Vinicius de Moraes





Armanda Passos

23.4.08

Sensation _ preâmbulo de um verão-por-dentro.



Par les soirs bleus d'été, j'irai dans les sentiers,
Picoté par les blés, fouler l'herbe menue :
Rêveur, j'en sentirai la fraîcheur à mes pieds.
Je laisserai le vent baigner ma tête nue.

Je ne parlerai pas, je ne penserai rien :
Mais l'amour infini me montera dans l'âme,
Et j'irai loin, bien loin, comme un bohémien,
Par la Nature, — heureux comme avec une femme.


Rimbaud, Poésies

17.4.08

Dos dias.

Hoje sinto-me exausto.
Apertado.

Triste.

Tenho cá dentro um mar que não sossega.


Um abismo.

Há dias assim.
Dias que nos assustam porque nem da morte temos medo.



Aquece-me, no entanto,
o sol do teu sorriso que há muito se ergueu no meu horizonte.


Frederico M.




//for the light to come in, a wall must crack//


5.4.08

O Insaciável Homem-Aranha


(...) A pensar em tudo isto massajo-me um pouco e a tranca pôs-se-me tesa e grossa. Masturbo-me. Suave. Com a ponta dos dedos. Júlia deve estar acordada e não quero que saiba que estou excitado, a pensar na negra Ivón. Ahhh, que bom. Toco na Júlia. Ponho a mão no seu sexo. Masturbo-a um pouquito. Molha-se:

- Vem. Espeta-te.

- Não, não! Tu, tu.

- Vem cá tu e espeta-te, pa’gozares.

Falamos num sussurro. A dois metros de nós fica a sala e a minha mãe dorme. Isto é pior que uma gruta. Põe-se às cavalitas em cima de mim e espeta-se ela mesma. Apenas com dois centímetros dentro tem o primeiro orgasmo. Tenho de lhe tapar a boca com as mãos porque se entrega e suspira. Sufoca-se como uma odalisca. Nessa posição vem-se sempre como uma adolescente. Uma e outra vez. Ela mesma comanda. Quem é que disse que está na menopausa? Sobe, desce, bate para os lados. Crava-se a fundo. Todo dentro: dezoito centímetros. Ela faz tudo. e eu ali, de barriga para cima, sossegado, com os olhos fechados e a pensar em Ivón. Como me agrada essa preta e como eu lhe agrado! Adora trepar-me em cima às cavalitas e tem um orgasmo atrás do outro. É escandalosa e grita e suspira. Tem trinta e sete anos, mas fica extenuada em cinco minutos. Quando já não aguenta mais, deito-a de barriga para cima, trepo eu e demoro uma hora ou mais. É isso que tem de bom a minha idade: nunca tenho pressa e já não procuro, encontro. A negra engatou um galego há um ano. Creio que é de Vigo. Engordou, a ganda cabrona. Saca-lhe bastante dinheiro e arranjou umas mamas e um cu de campeonato. Estava magra devido à fome e eu a julgar que era pela estética. O galego baba-se atrás dela e até garrafas de bagaço lhe traz. Melhor dito: traz-me. Ele nem imagina para quem carrega o bagaço. Ivón não bebe.

Com a Júlia não consigo foder tanto. Não me excito bem. Deixo-a ter três ou quatro orgasmos e ala. Aborreço-me. Cada vez gosto menos das brancas. Deitamo-nos um ao lado do outro. Sem falar. Nem uma palavra de amor. Apenas um par de beijos insossos. Não sei como é possível que consiga ter tantos orgasmos. Ela não percebe que isto já se acabou? Não entende que continuamos juntos por inércia e ladeira abaixo? Foda-se, que mulher mais estúpida e persistente! Continuamos a suar como duas mulas. Só há uma ventoinha e ontem à noite deixei-a à minha mãe. Relaxo-me o mais que posso. Tenho uma poça de suor nas costas. Ao menos esta noite não há mosquitos. A Júlia já ressona. Adormeci.

(...)




Pedro Juan Gutiérrez